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Treino

Memória muscular | O que é e como funciona?

Memória muscular | O que é e como funciona?
Eduardo Machado
Escritor5 anos Atrás
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Quem é que nunca deixou ou conhece alguém que deixou de treinar, quer seja por motivos de trabalho, estudos ou de saúde/lesão e, quando essa mesma pessoa volta aos treinos com uma alimentação correta, o ganho de massa de muscular é grande?

Estes ganhos de massa muscular repentinos podem gerar alguma desconfiança pelos colegas e o resto do staff do ginásio.

Antes de avançarmos para o mecanismo fisiológico que leva a estes ganhos de massa muscular abruptos em pouco tempo, vamos ter que perceber um pouco como ocorre a hipertrofia para depois podermos compreender o resto.

Quase todas as células têm núcleos, sendo estes os responsáveis pelo controlo das reações químicas através da transcrição e tradução da informação contida no DNA em proteínas.

No caso do músculo esquelético, estas fibras são multinucleadas mas, à medida que o músculo aumenta (hipertrofia), o número de mionúcleos aumenta de forma a manter o domínio mionuclear constante, garantindo assim a continuidade da hipertrofia até certo ponto.

Como se pode ver pela imagem ilustrada abaixo, aquando de um estímulo de hipertrofia (treino de alta intensidade conjugado com uma alimentação correta), o domínio mionuclear aumenta, o que leva a uma ativação das células satélites, que posteriormente se proliferam, diferenciando-se e fundindo-se com a fibra muscular.

Com um maior número de mionúcleos, o domínio mionuclear fica mais pequeno (como visto na transição da segunda para a terceira representação), permitindo assim que o músculo hipertrofie outra vez.

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Uma grande parte da literatura mais antiga tem sugerido que a atrofia induzida por suspensão dos membros conduz a uma perda de mionúcleos excessiva por apoptose, e que o mecanismo da reaquisição da massa muscular após períodos de inatividade seja atribuído à aprendizagem motora.

Mais tarde, foi demonstrado que a atrofia induzida pela suspensão dos membros inferiores não conduzia à perda de mionúcleos, apesar de um forte aumento na atividade apoptótica de outros tipos de núcleos dentro do tecido muscular.

Quando reposto o estímulo nos membros, ocorria hipertrofia do músculo sem o aumento do número de mionúcleos até chagar ao estado anterior.

Até ao momento há trabalhos que demonstram que os mionúcleos permanecem durante alguns meses após cessar o treino, apesar de, por conhecimento empírico, estas alterações fisiológicas deverem permanecer, pelo menos, alguns anos.

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Exemplo de caso:

Talvez o caso mais conhecido seja mesmo o do mediático Kevin Levrone, um dos melhores culturistas de sempre que, no início da década passada, se ausentou dos treinos por mais de meia década.

Apesar de o corpo dele ter chegado a um ponto de se parecer com o de um sedentário, os ganhos de massa muscular foram assustadores para o período de tempo decorrido quando regressou aos treinos no final da década anterior.

A sua preparação para o Mr. Olympia deste ano foi impressionante para o tempo em questão. Outro caso, se calhar não muito conhecido, é o do ator que fez o papel do super-herói na trilogia do Batman.

O caso de Christian Bale para o Batman:

Christian Bale é conhecido pelas suas transformações corporais para dar vida a uma série de personagens, com perdas e ganhos de massa muscular acentuadas.

Outros nomes de peso no bodybuilding onde se viu este efeito foi com o Víctor Martínez e Hidetada Yamagishi.

O uso de esteróides, mesmo que temporariamente, também leva a um aumento dos mionúcleos, o que poderá levar a que esta exposição momentânea seja sempre “lembrada” pelos músculos, já que a retirada da sua exposição não leva a uma diminuição deste mionúcleos.

Devido ao avançar da idade, a capacidade de produzir mionúcleos estará diminuída. Isto leva a crer que os indivíduos podem obter um efeito benéfico se começarem o treino de força cedo.

Por isso, caso um dia aconteça algum imprevisto que te deixe fora de “combate”, não te preocupes que em poucas semanas voltas a recuperar tudo – isso aliado a um bom treino e a uma boa dieta, claro.

O músculo nunca se esquece da glória do passado!

Chamo-me Eduardo Machado, sou Licenciado em ciências da nutrição pelo Instituto Universitário de Ciências da Saúde e Mestre em nutrição clínica pelo Instituto Superior de Ciências da Saúde Egas Moniz. Sou apaixonado pelo desporto, contando com mais de 10 anos de treino em várias modalidades, como o powerlifting e kickboxing, e a trabalhar há mais de um ano no futebol profissional.
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