Nesse momento aproveitei para por um pouco de tape no pescoço que estava ferido devido a fricção do fato e depois segui para os últimos 3,4km sempre num ritmo confortável.
2. Ciclismo
Terminei a natação e desloquei-me aos balneários para fazer a transição e vestir o equipamento de ciclismo.
Parti para as 67 voltas de cerca de 8km, no total 540km de ciclismo, confiante, embora na primeira volta tenha percebido que a distância não seria única dificuldade…pensava que “em 67 voltas não me podem por nenhuma subida” a verdade é que não era uma, nem duas, nem três… e tinha que lá passar 67 vezes!
O vento era forte e inconstante soprando de todos os lados, e logo ai percebi que teria outras dificuldades.
Mas…os obstáculos são o que nos tornam mais fortes e nos fazem aprender. Com o meu mental coach preparei-me para qualquer adversidade que pudesse aparecer.
Das primeiras vezes que passei pelo speaker ouvi:
“O Miguel Carneiro a representar a Marinha Portuguesa é o primeiro atleta Português a terminar um triplo homem de ferro”, e estava ainda no ciclismo com dois longos dias de prova pela frente.
Tinha um suporte para a bicicleta onde entrava um copo e sempre que passava pela tenda de apoio fazíamos a troca de copos, e este copo era cheio de comida e servia para me alimentar enquanto pedalava sem ter que ficar parado na tenda.
Este método resultou bastante nos primeiros 100km depois o lindo sol foi trocado for fortes chuvas. A chuvas eram geladas e com os ventos e velocidade do bicicleta ficava difícil pedalar sem gelar, chegou mesmo por vezes a cair granizo.
O método do copo deixou de funcionar porque, rapidamente o copo ficava cheio de água e a comida virava “sopa” e tivemos que optar por paragens no local de apoio, que teriam de ser breves porque devido ao frio, o corpo arrefecia rapidamente e se isso acontecesse implicava a mudança para equipamento seco.
A minha equipa estava constantemente a secar a roupa na máquina e eu constantemente a ficar molhado. O tempo estava um pouco incerto, ora chovia a potes hora fazia sol mas o vento durante todo o trajeto foi muito duro!
Pouco tempo depois, comecei a sentir uma pequena quebra, especialmente um pouco de perda de força e energia durante as subidas. Expliquei à minha equipa que algo não estava bem porque eu estava bem treinado para conseguir andar naqueles registos sem quebras e optei para parar e recuperar o pequeno défice calórico e de hidratos que tinha.
Numa das paragens do ciclismo onde chovia bastante, aproveitei para me alimentar. O tempo que fiquei parado foi o suficiente para o meu corpo gelar: decidimos secar e trocar para uma roupa seca mas, ao mesmo tempo começou a chover torrencialmente e cair granizo.
Optámos por esperar um pouco para o tempo melhorar. Foi então que me deitei no chão por cima de uns plásticos e a minha equipa cobriu-me com alguns casacos e dormi 30 minutos. Quando acordei a chuva ainda se mantinha mas estava mais calma, e eu continuei a pedalar.
Quase antes do dia nascer comecei a sentir a fadiga de um dia e noite a pedalar. Os olhos começaram a fechar e já deixava as rajadas de vento desviarem a bicicleta para a outra faixa. Foi então que decidi fazer mais uma paragem para descansar, e 30 minutos depois estava como novo.
Quando estava praticamente no fim do ciclismo e estava completamente gelado, vesti roupa quente para as últimas quatro voltas, colei junto ao peito e às costas, jornais para manter quente, mas fiz uma volta completa e não consegui parar de bater o dente e tremer.
Por mais que pedalasse o corpo já tinha arrefecido tanto que não estava fácil de recuperar e foi quando fui tomar um duche quente e ver se recuperava alguma temperatura.
Fui a correr aos chuveiros onde fiquei durante alguns minutos. Comecei a secar o corpo e, entretanto o Luís chega com roupa seca para eu vestir: quando me tocou no corpo disse que eu continuava gelado, mas eu já me sentia bem e pronto para terminar as três voltas que me faltavam. Fiz-me à estrada e terminei o ciclismo com pouco mais de um dia de prova.
Já só faltavam três maratonas, 126,6km em 96 voltas de sensivelmente 1300m.
A parte positiva do ciclismo é que era numa zona urbanizada e o vento não se fazia sentir muito e a chuva já não era tão intensa como tinha sido durante as longas horas do ciclismo. A parte negativa foi que até então estive quase cerca de 30 horas com os pés molhados. Tinha os pés completamente enrugados….logo não estavam no melhor estado para quem tinha que correr 126,6km.
3. Corrida
A corrida era o meu maior receio neste desafio devido a fascite plantar (lesão no calcanhar e planta do pé) que me acompanhou durante toda a preparação e que me condicionou muito os treinos, e agora parecia ter uma agravante. Durante a toda a corrida doeu-me a parte frontal dos pés!
Durante a corrida, a minha equipa dava-me a comida sempre fracionada em copos, bebidas. Sempre que ingeria alimentos fazia-o enquanto caminhava e depois de terminar voltava novamente a correr.