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Nutrição

Dieta Cetogénica | Como Ganhar Massa Muscular

Dieta Cetogénica | Como Ganhar Massa Muscular
Tatiana Fernandes Coelho
Escritor3 anos Atrás
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A dieta cetogénica (ou “keto”) está a tornar-se rapidamente uma das abordagens à nutrição mais populares por todo o mundo.

Enquanto muitas pessoas a usam para emagrecer, não deixa de ser também uma opção para quem procura também desenvolver a sua massa muscular.

Neste artigo, vamos falar sobre exatamente em que consiste a dieta cetogénica, as ideias erradas sobre o ganho de massa muscular na dieta cetogénica e em como este tipo de dieta pode, na verdade, ajudar-nos a desenvolver mais massa magra.

A dieta cetogénica keto

O que é a dieta cetogénica?

Trata-se de uma dieta rica em gorduras e pobre em hidratos de carbono, que frequentemente envolve também um consumo incrementado de proteínas.

Foi originalmente concebida como uma forma de ajudar a reduzir a severidade e frequência de episódios associados a algumas patologias. Mais recentemente, foi proposta como um tipo de alimentação viável para a perda de peso, podendo igualmente beneficiar pessoas com condições metabólicas.

A dieta keto tem como objetivo central o estado de cetose e a minimização da produção de insulina. A cetose é atingida quando o organismo está tão vazio de hidratos de carbono que começa a usar a gordura, quer dos alimentos quer das reservas do corpo, para gerar energia. O corpo decompõe a gordura para produzir cetonas (de onde vem o nome cetose), que entram nos ciclos de energia.

Leva tipicamente cerca de 3 a 4 dias de uma dieta muito pobre em hidratos de carbono (menos de 50g por dia) para atingir a cetose.1 Para algumas pessoas, pode chegar a uma semana!

Este é indubitavelmente o maior obstáculo para quem se inicia pela primeira vez nesta dieta, uma vez que este período de adaptação metabólica pode ser stressante e caracterizado por fome, desejos por comida, fadiga e irritabilidade extrema.

Há também a possibilidade de se desenvolver o que é conhecido como a “gripe cetogénica” – sintomas semelhantes aos da gripe que ocorrem durante a fase de adaptação metabólica.2

Usar snacks saborosos e baixos em hidratos de carbono pode certamente ajudar nesta transição, e alguns dos nossos favoritos para o efeito incluem frutos secos e manteigas de frutos secos, barras de proteína e biscoitos proteicos

Equívocos sobre a dieta cetogénica e o desenvolvimento muscular

A principal razão porque algumas pessoas olham com ceticismo a ideia de que seja possível seguir este tipo de dieta e desenvolver ao mesmo tempo mais massa magra é o seu efeito na produção de insulina.

A insulina é uma hormona anabólica (isto é, uma hormona associada com “criar ou construir”, e não com desfazer).3 Consegue isto ligando-se a uma célula (neste caso, a uma célula muscular) e enviando um sinal a essa célula que lhe dá a indicação para absorver nutrientes. O afluxo de nutrientes pode então contribuir para reparar e fazer crescer o músculo (depois deste ter passado pelos efeitos do exercício).

Embora isto seja verdade, há outras vias, mais importantes, que suportam a construção muscular. Dietas ricas em proteínas de alta qualidade (de fontes animais ou de fontes vegetais variadas que se complementem) fornecem uma dose alta de leucina. A leucina é um aminoácido, ou seja, um dos blocos básicos de construção das proteínas, e é muito usada devido à sua capacidade de estimular a síntese muscular proteica.

Como uma dieta cetogénica pode apoiar o desenvolvimento muscular

Como mencionámos acima, as dietas “keto” são tipicamente bastante ricas em fontes proteicas, e especialmente em leucina, o que vai em si mesmo estimular a síntese muscular proteica.4

Contudo, a insulina pode representar benefícios acrescidos no que respeita à hipertrofia (crescimento do músculo). Uma coisa importante a ter em mente, no entanto, em relação a este argumento, é que a leucina por si própria também estimula a produção de insulina.4 Assim, a necessidade de hidratos de carbono começa a parecer questionável. Isto não é afirmar que não é a solução ideal para algumas pessoas, no que toca à recuperação e adaptação, mas sugere que a noção de que não é possível desenvolver a massa muscular enquanto numa dieta cetogénica parece estar equivocada (o que é confirmado por um grande número de estudos).5

Para além disto, e ainda que de uma forma não diretamente associada ao ganho de músculos, a dieta cetogénica pode ajudar a emagrecer, o que contribui para um aspeto mais definido e musculado, e a reter mais massa muscular (o que é especialmente verdade quanto à perda de músculo causada pelo envelhecimento ou inatividade).5

É importante observar que, à medida que o nosso metabolismo se adapta a uma dieta cetogénica, podemos notar um decréscimo no desempenho durante os treinos (semelhante ao que sucede quando nos sentimos “a chocar alguma coisa”.6 No entanto, isto parece desvanecer-se com o tempo, para além de que a reação varia de pessoa para pessoa: há quem tenha um desempenho melhor com uma dieta com poucos hidratos de carbono, tal como para outros sucede o contrário.7

O músculo pode também parecer mais pequeno ou menos saliente devido à redução no glicogénio e água, sem que o tecido muscular real tenha mudado.

Mensagem Final

A ideia de que uma dieta cetogênica pode ter um impacto negativo na nossa capacidade de ganhar massa muscular é um equívoco resultante da falta de compreensão sobre a forma como o desenvolvimento muscular funciona.

Ganhar músculo é tão viável com a dieta “keto” como com qualquer outra e pode possivelmente ser até maior que noutras, se for acompanhada por um consumo aumentado de proteínas de alta qualidade.

É verdade que podes sentir algumas dificuldades iniciais na transição, mas não parece haver qualquer razão para não poderes desenvolver os músculos de forma significativa enquanto praticas este tipo de alimentação.

Lê mais:

Qual é a diferença entre uma dieta com baixo teor de hidratos de carbono e uma dieta cetogénica?  As Dietas Low-Carb São As Melhores Para Emagrecer?

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Os nossos artigos têm propósitos unicamente informativos e educativos e não devem ser usados como conselho médico. Se tem alguma preocupação, consulte um profissional de saúde antes de tomar suplementos nutricionais ou introduzir quaisquer alterações significativas na sua dieta.

 

1. Scott, J. M., & Deuster, P. A. (2017). Ketones and Human Performance. Journal of special operations medicine: a peer reviewed journal for SOF medical professionals, 17(2), 112-116.

2. Bostock, E., Kirkby, K. C., Taylor, B. V., & Hawrelak, J. A. (2020). Consumer reports of “Keto Flu” associated with the ketogenic diet. Frontiers in Nutrition, 7, 20.

3. Dimitriadis, G., Mitrou, P., Lambadiari, V., Maratou, E., & Raptis, S. A. (2011). Insulin effects in muscle and adipose tissue. Diabetes research and clinical practice, 93, S52-S59.

4. Figueiredo, V. C., & Cameron-Smith, D. (2013). Is carbohydrate needed to further stimulate muscle protein synthesis/hypertrophy following resistance exercise?. Journal of the International Society of Sports Nutrition, 10(1), 1-3.

5. Paoli, A., Cancellara, P., Pompei, P., & Moro, T. (2019). Ketogenic diet and skeletal muscle hypertrophy: a frenemy relationship?. Journal of human kinetics, 68(1), 233-247.

6. Sherrier, M., & Li, H. (2019). The impact of keto-adaptation on exercise performance and the role of metabolic-regulating cytokines. The American journal of clinical nutrition, 110(3), 562-573.

7. Brinkworth, G. D., Noakes, M., Clifton, P. M., & Buckley, J. D. (2009). Effects of a low carbohydrate weight loss diet on exercise capacity and tolerance in obese subjects. Obesity, 17(10), 1916-1923.

Tatiana é Doutorada em Ciências Médicas e da Saúde, pela Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra, tendo, ao longo da sua carreira de investigação científica, sido autora de artigos académicos publicados em revistas internacionais, na área da Genética e da Biologia Molecular.

A sua experiência como Técnica Especialista em Exercício Físico e Coach L-1 de CrossFit, potencia a sua paixão por todas as vertentes da otimização da performance atlética na prática desportiva, tendo, inclusivamente, escrito alguns artigos de revisão sobre a influência do background genético na performance e resistência físicas, na adaptabilidade ao treino e na resposta fisiológica à nutrição e suplementação desportivas.

Mais informações sobre Tatiana Fernandes Coelho: LinkedIn, ORCID e PubMed.

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