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Nutrição

A Dieta Frutariana | Facto ou Ficção?

A Dieta Frutariana | Facto ou Ficção?
Claire Muszalski
Escritor2 anos Atrás
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Hoje vamos explorar uma tendência que ganhou recentemente relevo: uma nova dieta chamada frutarianismo, que envolve (como se poderá adivinhar) comer fruta em doses abundantes. Vamos ver exatamente o que isto significa, quais poderão ser os seus pontos fortes, e se se trata de apenas mais uma moda sem qualquer mérito para juntar a uma lista que não para de aumentar.

O que é o frutarianismo?

Há várias maneiras de nos tornarmos frutarianos. Para alguns frutarianos, a motivação nasce de uma fixação pelo retorno a um passado anterior às sociedades agrárias, quando os seres humanos eram caçadores-recoletores. Outra motivação comum é o desejo de eliminar elementos tóxicos que se acredita estarem presentes no organismo. Para outras pessoas, o apelo de uma alimentação frutariana deriva do desafio que a natureza restritiva desta filosofia alimentar proporciona.1

Para nos tornarmos frutarianos, pelo menos metade das nossas calorias devem provir de fruta crua. Normalmente, os outros 25 a 50% das calorias vêm de frutos secos, sementes, vegetais e grãos integrais. Frutarianos estritos, contudo, podem fazer uma alimentação até 90% composta por fruta, deixando 10% para frutos secos e sementes. Esta é uma dieta altamente restritiva.

Alimentos permitidos a frutarianos incluem:

  • Frutos ácidos: Citrinos, arandos, ananases
  • Frutos subácidos: cerejas, framboesas, figos
  • Frutos doces:  uvas, melões, bananas
  • Frutos oleosos:  cocos, azeitonas, abacates
  • Frutos vegetais: Pimentos, tomates, pepinos, abóboras
  • Frutos secos: Avelãs, cajus, amêndoas, pistachios, nozes
  • Sementes: de girassol, de abóbora
  • Bebidas: água de coco, sumos de fruta fresca e água

 Alimentos proibidos

Um frutariano não consome qualquer proteína de origem animal. Ovos, aves, carne de porco e de bovino estão fora de questão. Os laticínios estão igualmente interditos – não é permitido o leite, iogurte, queijo ou qualquer outro produto que provenha de animais. Alguns frutarianos bebem leites de amêndoa, de caju ou de coco em vez de leite de vaca ou de cabra.

Grãos e produtos derivados deles não são permitidos, e isto inclui grãos germinados. Poder-se-ia pensar que as batatas seriam permitidas, mas não é o caso: as batatas contêm amido. Uma dieta verdadeiramente frutariana não inclui quaisquer feijões ou legumes, incluindo grão-de-bico, lentilhas, ervilhas, soja e amendoim. Alimentos processados são proibidos. Isto significa comprar apenas nas prateleiras periféricas da mercearia, ou no mercado mais próximo.

O que diz a ciência

Apesar das qualidades nutritivas da fruta, comê-la em detrimento de outros grupos alimentares pode ser perigoso.

Os nossos corpos precisam de proteínas e gorduras, dois dos macronutrientes que poderão ficar em falta numa dieta frutariana. Adicionalmente, cortar os grãos põe-nos em risco de deficiências de vitamina B, a falta de laticínios e vegetais pode deixar-nos com falta de cálcio e a ausência de produtos de origem animal pode levar à carência de B12. Deficiências de micronutrientes podem resultar em complicações como a anemia, fadiga, desordens imunitárias e osteoporose. Os frutarianos têm também frequentemente níveis baixos de vitamina D, iodo e ácidos gordos ómega-3, o que pode levar diversos tipos de problemas. Isto torna a nutrição inadequada e insuficiente muito comum nos aderentes a esta dieta.

Os riscos

Há riscos elevados envolvidos na dieta frutariana. A sua natureza restritiva pode ser perigosa para pessoas com diabetes ou pré-diabetes, porque comer grandes quantidades de fruta pode fazer subir os níveis de açúcar no sangue e afetar a sensibilidade à insulina. Uma alimentação baseada na fruta também pode ser desaconselhável a pessoas com problemas no pâncreas e nos rins. Em alguns casos, frutarianos estritos podem até entrar em cetoacidose extrema devido a uma alimentação demasiado pobre.

Restringir a nossa alimentação a apenas um tipo de alimento pode levar também ao consumo desenfreado de outros grupos alimentares, o que é conhecido como ciclo das dietas. Isto também pode encorajar uma alimentação desorganizada, uma vez que se torna num padrão de tudo-ou-nada.

Ao depender tanto de fruta e privar o corpo das muito necessárias vitaminas, gorduras e proteínas, é possível induzir o que é conhecido como “modo de fome”. Se o corpo sente que não está a obter a energia de que precisa, vai fazer abrandar o metabolismo, na tentativa de conservar energia para funções vitais, como respirar.

O veredito

Embora a fruta represente certamente diversos benefícios nutricionais, há sérias desvantagens numa dieta frutariana.

Uma vez que os frutos têm normalmente níveis reduzidos de gordura e estão cheios de água, podem ser comidos em grandes quantidades por apenas umas poucas calorias. Com uma alimentação à base de fruta, precisaríamos de comer doses grandes de comida para atingir os nossos requerimentos energéticos, o que efetivamente promove a saciedade.

Embora os frutos contenham muitos nutrientes, não têm tudo o que precisamos para uma alimentação saudável e equilibrada. Seguir uma alimentação à base de fruta pode também levar a desejos intensos por outros alimentos, resultando no seu consumo desenfreado ou em outras formas de alimentação desordenada.

O nosso veredito é que esta é mais uma moda que devia ser deixada para trás. Foca-te numa alimentação à base de produtos integrais, que incorpore uma grande variedade de grupos alimentares e que não elimine nenhum deles por inteiro, uma vez que isso nos põe automaticamente em risco de deficiências nutricionais.

 

 

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Os nossos artigos têm propósitos unicamente informativos e educativos e não devem ser usados como conselho médico. Se tem alguma preocupação, consulte um profissional de saúde antes de tomar suplementos nutricionais ou introduzir quaisquer alterações significativas na sua dieta.

1. Boyle, J. (2012). Vegetarianism and fruitarianism as deviance. In Routledge Handbook of Deviant Behavior (pp. 285-290). Routledge.
2. Sanders, T. A. B., Reddy, S., Sheehy, P. J. A., & Monahan, F. J. (1994). Nutritional implications of a meatless diet. Proceedings of the Nutrition Society, 53(2), 297-307.
3. Centers for Disease Control and Prevention. Micronutrient facts. Updated December 3, 2020.
4. Wasserman, M. (2014). Plant-based diet for dummies. John Wiley & Sons.
5. Muraki I, Imamura F, Manson JE, et al. Fruit consumption and risk of type 2 diabetes: results from three prospective longitudinal cohort studies. BMJ. 2013;347:f5001. doi:10.1136/bmj.f5001.
6. Causso C, Arrieta F, Hernández J, et al. Severe ketoacidosis secondary to starvation in a frutarian patient. Nutr Hosp. 2010;25(6):1049-52.
7. Tuncali, S. Starvation Mode–A Myth or Reality?

Claire é uma Nutricionista membro da Academy of Nutrition and Dietetics para além de possuir a certificação em coaching de saúde e bem-estar atribuído pela International Consortium for Health and Wellness Coaching. No seu curriculum conta também com uma licenciatura em Biologia e um Mestrado em Dietética e Nutrição Clínica da University of Pittsburgh.

Falar e escrever acerca de comida e fitness são paixões que qualquer um notará na Claire, para além da sua disponibilidade de partilhar este conhecimento para melhorar outras vidas.

A Claire também possui uma certificação em treino de ciclismo indoor e tem uma paixão muito particular por corrida e aulas de yoga. O impacto mental e físico que lhe dão são únicos. Quando não está a fazer exercício, é normal vê-la a apoiar a equipa local de desporto ou a cozinhar para a família na cozinha.

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